Dia desses, estava na casa dos meus pais observando com certo embaraço as fotos que eles resolveram pendurar depois que os filhos saíram de casa, aquelas fotos de estúdio que as lojas – nesse caso, a finada Sulcolor – costumavam oferecer como brinde aos clientes, naquela época em que as pessoas colocavam filme na câmera, fotografavam e depois mandavam revelar.
Ridiculamente amarelados na parede, eu, com uns três anos, e meu irmão, com uns sete e a mesma cara de hoje.
Minha mãe entra, vê que estou espremendo os olhos para não perder nenhum detalhe e se derrete. E, como se sabe, não precisa muito para que uma mãe derretida comece a contar episódios da infância de seus lindos filhinhos.
Ela começou com uma velha conhecida, da ocasião do estúdio da Sulcolor. Estava difícil fazer a maldita foto porque a pequena não sorria. Não tinha jeito. Ora, e tinha eu algum motivo para sorrir para um fotógrafo bagaceiro? Não, mas alguém inventou que tinha que ser assim – um século antes e não teríamos esse problema.
E não era má vontade, acho. Porque minha mãe pediu que eu mostrasse os dentinhos para o tio, eu mostrei, ele fez a foto, e lá está aquele sorriso bizarro na parede.
E então a historinha que eu nunca tinha ouvido. Saímos da Sulcolor, que ficava na Dr. Flores ou em outra dessas ruas agradáveis para um passeio pelo Centro, andando no meio do populacho. Minha mãe sente aquela puxadinha na roupa que só as crianças sabem dar e olha para baixo.
- Mãe, eu não gosto de gente.
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário