"Não há outro homem a quem aventurar-se a falar de memória assente tão mal. Pois praticamente não reconheço em mim vestígio dela, e não creio que haja no mundo uma outra tão prodigiosa em insuficiência. Tenho banais e comuns todas as minhas outras qualidades. Mas nesta creio ser singular e muito raro, e digno de por ela ganhar nome e fama.
"(...) Em certa medida, consolo-me. Em primeiro lugar porque esse é um mal pelo qual encontrei principalmente o meio de corrigir um mal pior que poderia facilmente ter surgido em mim, ou seja, a ambição, pois é uma falta (a falta de memória) inadmissível para quem se envolve nos negócios do mundo; e porque, como mostram vários exemplos semelhantes do andamento da natureza, esta de bom grado fortaleceu em mim outras faculdades na medida em que aquela se enfraqueceu, e facilmente eu iria deitando e enlaguescendo o meu espírito e o meu discernimento sobre os rastros de outrem, como faz o mundo, sem exercer as suas próprias forças, se as ideias e opiniões alheias estivessem presentes em mim pelo benefício da memória.
"E porque as minhas falas são mais curtas, pois o armazém da memória costuma ser mais bem provido de matéria do que o da invenção; se ela me tivesse favorecido, eu ensurdeceria os meus amigos com tagarelices, pois os assuntos despertam essa medíocre faculdade que tenho de manejá-los e aproveitá-los, inflamando e arrebatando as minhas palavras. Isso é lamentável. Experimento-o pela prova que me dão alguns dos meus amigos íntimos: à medida que a memória lhes fornece a coisa inteira e presente, eles recuam tanto a sua narração e tanto a carregam de circunstâncias inúteis que, se a história é boa, sufocam-lhe a excelência; se não é, começamos a maldizer ou o sucesso da sua memória ou o fracasso do seu discernimento."
Michel de Montaigne
segunda-feira, 21 de maio de 2007
quinta-feira, 17 de maio de 2007
Cheeega
Mais capoeira. E eu tentando me concentrar em Henry Miller.
E olha:
Who would want to switch in and listen to Beethoven, for example, when he might himself experience the ecstatic harmonies which Beethoven so desperately strove to register.
Eu! Eu quero ouvir Beethoven! Já experienciei capoeira suficiente hoje.
Por favor, desliga esse berimbau!
E olha:
Who would want to switch in and listen to Beethoven, for example, when he might himself experience the ecstatic harmonies which Beethoven so desperately strove to register.
Eu! Eu quero ouvir Beethoven! Já experienciei capoeira suficiente hoje.
Por favor, desliga esse berimbau!
Podia ser pior.
Podia mesmo ser pior. Podia ser o rádio na Eldorado da minha antiga vizinha. Ou os filhos dela, vários, chorando e berrando o dia todo. Podia ser a chaminé de outra antiga vizinha, que aproveitava esses friozinhos gostosos para defumar nosso apartamento. Mas isso é só capoeira. Só. Claro, fora isso, tem as crianças desse coleginho que berram o dia inteiro. Quando nos mudamos, pensei “ora, é só durante o recreio”. Só? Esqueci da educação física. Mas hoje não são só as crianças, que por sinal estão bem quietas (melhor que isso, só em dia de chuva, ah como gosto). Hoje tem a Turma do Berimbau. Que lindo. Cultura brasileira, raízes, tudo isso. Não podia ser sem berimbau, sem cantoria? Quem sabe longe do alcance da minha janela?
Opa, acho que está acabando. Preces atendidas! Hora de voltar ao trabalho.
Opa, acho que está acabando. Preces atendidas! Hora de voltar ao trabalho.
segunda-feira, 7 de maio de 2007
sábado, 5 de maio de 2007
Francesas, germânicas, carioquinhas e baratelas
A historinha começa com um espaço esquisito dentro do apartamento do jovem casal, uma espécie de nicho que poderia servir como confessionário, cyberspace ou quartinho do castigo. Eliminando estas três opções, o jovem casal chegou à conclusão de que aquele era o espaço que faltava para guardar boa parte dos livros que estavam há tempos dando um passinho à frente no escritório.
Fomos direto à Ceasa comprar as caixas de laranja (existem caixas específicas para cada tipo de verde; estas são as de laranja) que formariam nossa estante tosca-proposta, uma desculpa cool para justificar a falta de verba. Foram realmente muito baratas (quando eu digo baratas, I mean it) e estávamos esperando ter um tempinho para limpá-las, dar uma lixadinha e montá-las como estante.
Qual não foi nossa surpresa!, diria minha avó. Começamos a encontrar baratinhas pela casa. Uma aqui, outra lá, e mais outras. Foram-se alguns Rodox e reinou a chinelada. Mas as filhas da puta continuavam aparecendo. Descobri que esse é um tipo de barata pequeninho e mais praga do que as normais, e que tem vários nomes de procedência, como barata francesa, barata germânica ou carioquinha. O último que descobri, e que penso ser mais apropriado, é baratela.
Quando elas começaram a se espalhar pela casa, ficamos realmente putos. Sabe aquela sensação de nunca estar sozinho? Eu acendia a luz e fazia um scan pelo chão, parede e móveis antes de entrar. As Havaianas (veja só, outro nome de procedência) foram grandes amigas nesse período.
Partimos então para a grande batalha. Várias latinhas de Jimo Gás Fumigante (esse último nome me dá até coceira, talvez por alguma semelhança), tudo preparado, e uma longa noite fora de casa. Pouquíssimos corpos, mas durante o primeiro dia apareceram algumas moribundas que foram devidamente chineladas. Além disso, a casa ficou tomada por um pó nojento que precisou de uma faxineira e uma dona de casa furiosa (no caso, eu) para mais de um dia de limpeza. Lavar toda a louça da casa, por exemplo, dá bastante trabalho.
O problema é que, apesar de ser em pouca quantidade, elas continuaram aparecendo. No desespero supremo contratamos um Ghostbuster profissional. O cara parecia entender do assunto, usava uma roupinha muito divertida e o processo todo foi rápido e simples. Mas, de novo, corpos e moribundas continuam aparecendo. E, de novo, estamos lavando toda a louça da casa. A casa, aliás, precisa ficar “suja” por pelo menos uma semana. Não sabemos o que dá para lavar ou não. Estou com um certo nojinho da minha própria casa. Tentamos usar o forno hoje e G. quase morreu envenenado. A cozinha está praticamente interditada.
Aliás, conselho do Ghostbuster: se tiver algum problema com baratelas, é melhor não visitar cozinhas de restaurantes*.
* eu diria isso independentemente das baratelas, mas segundo o rapaz elas são a maior atração das cozinhas.
Fomos direto à Ceasa comprar as caixas de laranja (existem caixas específicas para cada tipo de verde; estas são as de laranja) que formariam nossa estante tosca-proposta, uma desculpa cool para justificar a falta de verba. Foram realmente muito baratas (quando eu digo baratas, I mean it) e estávamos esperando ter um tempinho para limpá-las, dar uma lixadinha e montá-las como estante.
Qual não foi nossa surpresa!, diria minha avó. Começamos a encontrar baratinhas pela casa. Uma aqui, outra lá, e mais outras. Foram-se alguns Rodox e reinou a chinelada. Mas as filhas da puta continuavam aparecendo. Descobri que esse é um tipo de barata pequeninho e mais praga do que as normais, e que tem vários nomes de procedência, como barata francesa, barata germânica ou carioquinha. O último que descobri, e que penso ser mais apropriado, é baratela.
Quando elas começaram a se espalhar pela casa, ficamos realmente putos. Sabe aquela sensação de nunca estar sozinho? Eu acendia a luz e fazia um scan pelo chão, parede e móveis antes de entrar. As Havaianas (veja só, outro nome de procedência) foram grandes amigas nesse período.
Partimos então para a grande batalha. Várias latinhas de Jimo Gás Fumigante (esse último nome me dá até coceira, talvez por alguma semelhança), tudo preparado, e uma longa noite fora de casa. Pouquíssimos corpos, mas durante o primeiro dia apareceram algumas moribundas que foram devidamente chineladas. Além disso, a casa ficou tomada por um pó nojento que precisou de uma faxineira e uma dona de casa furiosa (no caso, eu) para mais de um dia de limpeza. Lavar toda a louça da casa, por exemplo, dá bastante trabalho.
O problema é que, apesar de ser em pouca quantidade, elas continuaram aparecendo. No desespero supremo contratamos um Ghostbuster profissional. O cara parecia entender do assunto, usava uma roupinha muito divertida e o processo todo foi rápido e simples. Mas, de novo, corpos e moribundas continuam aparecendo. E, de novo, estamos lavando toda a louça da casa. A casa, aliás, precisa ficar “suja” por pelo menos uma semana. Não sabemos o que dá para lavar ou não. Estou com um certo nojinho da minha própria casa. Tentamos usar o forno hoje e G. quase morreu envenenado. A cozinha está praticamente interditada.
Aliás, conselho do Ghostbuster: se tiver algum problema com baratelas, é melhor não visitar cozinhas de restaurantes*.
* eu diria isso independentemente das baratelas, mas segundo o rapaz elas são a maior atração das cozinhas.
sexta-feira, 4 de maio de 2007
Piada de farmacêutico
Não é a primeira vez que encontro isso no rótulo de um shampoo manipulado em farmácia:
USO: lavar c. cabeludo diariamente
USO: lavar c. cabeludo diariamente
quinta-feira, 3 de maio de 2007
Quando se trabalha em casa
Sabe aquela enroladinha pós-almoço, com expressão compenetrada em frente ao monitor e status ocupado enquanto fica vendo bobagens na internet ou simplesmente olhando através?
Incrivelmente, tenho a pretensão de enganar a mim mesma com isso.
Incrivelmente, tenho a pretensão de enganar a mim mesma com isso.
Here she comes
Quem diria. Primeiro voltei ao msn, agora ao blogger. Desta vez, sem pedir desculpas.
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